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20 de junho de 2008

AGRAVADA A FALTA DE ÁGUA NO ESPÍRITO SANTO


Jornal vê desertificação no ES, mas não as causas: eucalipto e cana

"E o próprio governo agrava o problema do uso da água. O Iema, principalmente, outorgou o uso da água sem conhecer a vazão dos córregos e rios. Desta forma, poucos ficaram com a água e muitos não têm nenhuma água para suas lavouras. Os conflitos estão se agravando por irresponsabilidade do Estado. É urgente que a inconseqüente decisão do Iema sobre a outorga seja revista.."

Ubervalter Coimbra
O jornal A Gazeta descobriu, finalmente, que o Espírito Santo está sendo transformado em deserto, apontando que são 600 mil hectares neste processo. Mas não conseguiu enxergar duas das principais causas da desertificação, que são as monoculturas do eucalipto e cana-de-açúcar. A reportagem do jornal foi publicada na sua edição de domingo (15).

A reportagem, em três páginas, aponta que a degradação se acentua pelos processos produtivos adotados, entre os quais a destruição da vegetação nativa e as pastagens improdutivas. Também cita corretamente o déficit hídrico em algumas áreas e o conflito já instalado pelo uso da água.
A informação de que são 600 mil hectares em processo de desertificação é oficial. Não entra na conta grande parte das pastagens, improdutivas, de uso intensivo em sua maioria. Em geral estas pastagens não têm árvores, o que dificulta a infiltração da água das chuvas. No Espírito Santo existem 1.800.000 hectares de pastos, a quase totalidade com baixo aproveitamento.

Nestas pastagens poderiam ser plantadas 360 milhões de árvores nativas, caso fosse utilizado o chamado sistema agrossilvipastoril. O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) chegou a paralisar uma pesquisa sobre o sistema agrossilvipastoril, quando os plantios do capim e das árvores já haviam sido feitos. O projeto exigia cerca de R$ 10 mil para implantação da infra-estrutura quando foi abandonado.
Os plantios convencionais dos pastos, inclusive formados com aração da terra morro abaixo, também causam desertificação. E o Incaper e o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) ignoram os sistemas agroecológicos.

Na realidade, a desertificação no Espírito Santo vem se acelerando pela irresponsabilidade da política do governo Paulo Hartung no campo. A começar pelo fato de o governo ter colocado esses dois órgãos a serviço do agronegócio.
Fomentam o plantio de eucalipto, que já cobre e desertifica 300 mil hectares, como informam os agricultores (210 mil hectares, segundo o governo). A quase totalidade destes eucaliptais é da Aracruz Celulose e de agricultores que colocaram suas terras a serviço da empresa, no Programa Produtor Florestal.

Além de degradar a terra, o eucalipto é voraz consumidor de água, agravando o problema em todo o Estado, principalmente no norte e noroeste.
Agora, a cana é outra monocultura que degrada a terra cujo plantio vem sendo incentivado. Atualmente são cerca de 60 mil hectares, e estão programados novos plantios que totalizaram 180 mil hectares de cana-de-açúcar. As áreas do eucalipto e da cana não entram nos 600 mil hectares da conta oficial da área em desertificação.

O governo Paulo Hartung também não cumpre a lei que exige a manutenção ou replantio de mata atlântica até cobertura de 20% da propriedade com vegetação nativa, na chamada reserva legal. Caso o governo Paulo Hartung cumprisse a lei, só em seu governo cada propriedade teria recuperado pelo menos 5% da Reserva Legal (1% ao ano), como determina o Código Florestal, Lei n° 4771/95.

No Espírito Santo restam somente 7% da área original da mata atlântica preservada. O governo não cumpre ainda a legislação que exige a manutenção das Áreas de Preservação Permanente (APPs), que são os topos de morros, encostas, nascentes e alagados.
Sem a vegetação nativa, o ciclo da água é alterado. As águas das chuvas assoreiam os córregos. Quando chove há inundações, depois longos períodos de estiagem, pois não houve infiltração da água na terra para lenta devolução à superfície. Com tantas alterações na vegetação e no solo, as secas são cada vez mais intensas.

E o próprio governo agrava o problema do uso da água. O Iema, principalmente, outorgou o uso da água sem conhecer a vazão dos córregos e rios. Desta forma, poucos ficaram com a água e muitos não têm nenhuma água para suas lavouras. Os conflitos estão se agravando por irresponsabilidade do Estado. É urgente que a inconseqüente decisão do Iema sobre a outorga seja revista.

Também desertifica a mineração do mármore e do granito. Além da destruição da vegetação, a quase totalidade das empresas simplesmente ignora as nascentes, que são aterradas. Há uso intenso das vias do interior, em geral não pavimentadas. Na mineração há ainda o trabalho em condições inseguras e degradantes, com registro de muitas mortes.
Apesar de o governo estadual ser o principal responsável pelo caos no campo, cinicamente o vice-governado Ricardo Ferraço - por anos secretário de Estado da Agricultura - diz na reportagem de A Gazeta que "o Espírito Santo está em estado de alerta", face ao quadro de degradação ambiental e da falta de água. Na gestão de Ricardo, a Seag lançou seus projetos para ampliar os plantios de eucalipto no Estado.

Fonte: 3Setor / Século Diário / Fórum Carajás/Portal do Meio Ambiente
(“para fins de direitos autorais de imagem declaro que a foto usada acima não é de minha autoria e que o autor não foi identificado”. )

Um comentário:

  1. Desde quando começou a ser plantado intensivamente, discute-se o efeito negativo do eucalipto sobre a disponibilidade de água. A razão é óbvia: como seu crescimento é vertiginoso, o consumo de água pela planta é acentuado. Daí consolidou-se a fama de que o eucalipto "seca o solo".

    As pesquisas florestais comprovam que as árvores de eucalipto consomem a mesma quantidade de água que outras espécies vegetais e, inclusive, que as matas nativas. O eucalipto usa a água disponível de forma mais eficiente, produzindo mais madeira com a mesma quantidade de água. (Paula Lima, 2004).

    Construiu-se no passado, pela falta de conhecimento científico, um preconceito contra o eucalipto. Recentemente, o discurso ecologista valorizou as florestas nativas contra as espécies exóticas, como que condenando as florestas plantadas de eucaliptos e pinus.

    Ora, é certo que ambas essas espécies são exóticas. Quase todas as culturas agrícolas também o são: milho, soja, arroz, feijão, cana-de-açúcar, café, batata, laranja, etc. Apenas a mandioca é nativa do Brasil. Portanto, nada há de estranho, nem diferente, nessa matéria, entre a agricultura e a silvicultura.

    A cadeia produtiva de celulose e papel mantém, comparada com as demais do agronegócio, um volume superior de áreas naturais protegidas. A área de conservação cobre 2,6 milhões de hectares, abrangendo a totalidade das áreas de preservação permanente e as de reserva legal, nelas incluídos parques e reservas nativas, e as reservas Particulares do Patrimônio Natural, integrantes do Sistema Nacional de Unidades de Conservação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Tal proteção tem efeito de mitificação relevante, que caracteriza o setor na questão da biodiversidade.

    FONTE - BRACELPA

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