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5 de setembro de 2009

EM BUSCA DE ÁGUA PARA A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO (I)


Um novo paradigma para a gestão de recursos hídricos

Ivanildo Hespanhol*

Centro Internacional de Reúso de Águas Cirra - POLI/USP

RESUMO

A política de importar água de bacias cada vez mais distantes para satisfazer o crescimento da demanda teve início há mais de dois mil com os romanos, dando origem aos seus famosos aquedutos. Esse é o "velho paradigma" que persiste ainda hoje, resolvendo, precariamente, o problema de abastecimento de água de uma região, em detrimento daquela que a fornece. A transferência sistemática de grandes volumes de água de fontes distantes, gerando volumes adicionais de esgoto, não pode mais ser aceita, tanto do ponto de vista econômico como do ambiental. Um "novo paradigma", baseado nos conceitos de Conservação e Reúso de Água deve evoluir, para minimizar os custos e os impactos ambientais associados a projetos de transposição de bacias. A tecnologia e os fundamentos ambientais, de saúde pública e gerenciais, hoje consagrados, permitem fazer uso dos recursos disponíveis localmente, mediante programas de gestão adequada da demanda, e da implementação da prática de reúso de água.

Palavras chave: Gestão de recursos hídricos, Conservação de água, Reúso de água.

Veja o artigo completo:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142008000200009

*Prof. Dr. Ivanildo Hespanhol
Doutor em engenharia ambiental pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, e em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP), o professor Ivanildo Hespanhol divide-se entre as aulas de pós-graduação em conservação e reúso de água que ministra no Departamento de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da USP e a diretoria do Centro Internacional de Reúso de Águas Cirra, órgão sem fins lucrativos ligado ao departamento da Poli. O centro funciona nos campos do ensino, pesquisa e extensão e, entre suas atividades, presta serviço para indústrias, firmas de consultoria, alguns ministérios – como os do Meio Ambiente e da Educação – e atua com agências de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


Comentários sobre

“Um novo paradigma para a gestão de recursos hídricos”

Eng. Julio Cerqueira Cesar Neto*
Especial para o Blog SOS Rios do Brasil

O professor Ivanildo Hespanhol nesse excelente trabalho defende a tese de que não podemos continuar a importar água de bacias vizinhas para atender ao crescimento populacional e industrial, de um modo geral, e especialmente para a RMSP, mas procurar continuar o atendimento das suas necessidades através da implantação de novo paradigma que consiste na redução do consumo através da gestão da demanda, principalmente o reuso da água, e controle de perdas e redução do desperdício.

Concordo com a tese quando trata o assunto de um modo geral, porém, discordo

quando se trata da RMSP. Para melhor fundamentar essa minha discordância me senti impelido a redigir outro texto que encaminho junto com este: “Avaliação do Abastecimento de Água na RMSP”.

Considerando a relevância do assunto aproveito a oportunidade para aprofundar o debate com as observações que seguem:

Concordo inteiramente que a água é um recurso finito e vulnerável e deve ser considerado como um bem econômico.

Concordo que os avanços de caráter legal e institucional experimentados pelos recursos hídricos, entre eles a cobrança pelo uso da água, não serão suficientes para manter o equilíbrio entre a demanda e a oferta de água especialmente em grandes conurbações com perspectivas de crescimento populacional e industrial.

Concordo que os sistemas de coletas, transporte e tratamento de esgotos não são estendidos no mesmo nível dos sistemas de abastecimento de água resultando sempre no aumento da poluição da região.

Concordo que o custo do m³ de água potável do “próximo” projeto pode ser equivalente a duas a três vezes o custo do anterior.

Concordo que se deva buscar um “novo paradigma” para a gestão dos recursos hídricos baseado nas palavras-chave conservação e reuso da água para minimizar os custos e os impactos ambientais associados aos novos projetos, através do estímulo do uso de água recuperada, águas pluviais e água subterrânea inclusive com recarga artificial de aqüíferos.

Concordo que a falta de recursos hídricos e o aumento dos conflitos pelo uso da água geraram a emergência da conservação e do tratamento e reuso, como componentes formais da gestão de recursos hídricos.

Concordo que na RMSP dos 70 m³/s aduzidos não mais que 30 m³/s sejam utilizados para fins potáveis e que os 40 m³/s restantes representam o potencial de reuso e poderiam ser substituídos por água de reuso para o atendimento de fins domiciliares e urbanos não potáveis (descarga sanitária, lavagem de pisos, lavagem de veículos e ruas, irrigação de áreas verdes e quadras esportivas, na construção civil e na indústria e ainda para recarga gerenciada dos aqüíferos).

Entretanto não acredito que o reuso assim como as outras ações de gestão da demanda e ainda o controle das perdas sejam capazes de dar solução para o abastecimento de água da RMSP especialmente por 2 motivos:

• o tamanho da redução de consumo possível dessa forma em face das necessidades.

• o tempo para atingi-las.

A região já possui quase 20 milhões de habitantes e deve atingir cerca de 24 milhões (+20%) nos próximos 10 a 15 anos: 2020-2025. Seguindo tendência das grandes metrópoles mundiais daí para a frente será de menor crescimento e estabilização !? Os mananciais que abastecem a população já apresentam déficit de 5 m³/s que mesmo após a entrada dos 5,7 m³/s do SPAT por volta de 2012, manterá esse déficit.

Sem novos ingressos esse déficit atingirá 10 m³/s em 2020 e 16 m³/s em 2025.

Tendo em vista essa perspectiva consideramos o que segue:

• Com relação ao controle de perdas o esforço feito pela SABESP nos últimos 10 anos conseguiu obter a economia de apenas 1,8 m³/s sobre 66 m³/s de consumo (2,7%). A grande parte da rede de distribuição continua muito antiga e a continuidade da favelização indica a manutenção de ligações clandestinas.

• Com relação aos 40 m³/s que representariam o potencial de reuso atual lembramos que para universializar a sua prática no Brasil há necessidade de desenvolver um arcabouço legal para sua regulamentação, orientação e promoção, além de programas de conscientização da população e outras medidas de estímulo que até agora ainda nem foram iniciadas.

• A sua aplicação nas edificações passa por avaliações dos custos e problemas operacionais associados à duplicação de grande parte dos sistemas hidráulicos que praticamente os inviabiliza nos edifícios existentes. Mesmo nas edificações novas essa duplicação onera consideravelmente os seus custos. Considerando que 80% da região já está implantada onde essa aplicação é praticamente inviável, os 20% a serem construídos, se superassem as dificuldades os custos representariam apenas 8 m³/s dos 40 m³/s imaginados.

• As mesmas observações valem para o reuso urbano que depende de definição de áreas, de adesão dos usuários e implantação de sistema de distribuição.

• A condução desse importante problema obteria maior celeridade se conduzido pelo Comitê da Bacia e sua Agência que já estava trabalhando nesse sentido quando foi desativada há mais de 3 anos.

• Embora a importância desses programas de reuso e controle de perdas, que devem ser mantidos e ampliados, verifica-se que realmente não conseguirão suprir os déficits previstos para o sistema em tempo sem aportes adequados a serem conseguidos com transposição da bacia do Ribeira de Iguape que é a única capaz de atender a demanda sem prejuízo para as suas próprias necessidades: a demanda é da ordem de 20 m³/s e a vazão média dessa bacia na seção de Registro atinge a 450 m³/s.

Observações

• Os novos aportes elencados no PDAA da SABESP: Juquitiba, Itatinga e Itapanhaú dificilmente superarão as exigências ambientais.

• A ampliação do uso do manancial subterrâneo, já hoje explorando cerca de 10 m³/s, é absolutamente contra indicado pois em face do uso predatório e descontrolado dentro de pouco tempo poderá entrar em colapso agravando ainda mais a precariedade do sistema metropolitano. A racionalização e ordenamento do uso desse importante manancial, que após o seu adequado gerenciamento poderia fornecer até 25 m³/s, conforme previsão dos geólogos, também estava em curso através do Comitê e sua Agência, o chamado Projeto Poço Legal, também foi desativado há mais de 3 anos.

Não há dúvida de que a importação de mais 20 m³/s para a região aumentará substancialmente a poluição dos nossos rios que já é escandalosa.

Porém, é preciso decidir se aceitamos mais esse acréscimo de poluição ou preferimos deixar parte da população sem água.


*Julio Cerqueira Cesar Neto

11 36669924 - 11 99137065
http://www.juliocerqueiracesarneto.com/


Enviado pelo amigo e colaborador: Eng. Julio Cerqueira Cesar Neto (Engenharia Hidráulica, Sanitária e Ambiental - POLI/USP) - conheça mais


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