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16 de setembro de 2009

ESPECIALISTA CONTESTA RESPOSTA DE SECRETÁRIOS SOBRE ENCHENTES EM SÃO PAULO

Rio Tietê (foto) transbordou devido à chuva e complicou o trânsito em SP; CET suspendeu o rodízio à tarde -(Foto: Moacyr Lopes Junior-08.set.2009/Folha Imagem)


*Enchentes e equívocos*

Terça-feira, 15 de Setembro de 2009

"Depois das chuvas atípicas da terça-feira (8), muita coisa errada foi dita sobre a relação entre as enchentes que transtornaram a cidade de São Paulo e a construção de novas pistas na Marginal Tietê. Erros devido a desconhecimento ou, mais grave, oportunismo puro e simples. Infelizmente, vários deles foram levados a sério na mídia.

O maior de todos talvez seja o que atribuiu o peso das enchentes às obras que estão começando, mas que, paradoxalmente, aliviaram a calamidade: as valetas abertas funcionaram como "piscinões", retendo boa parte da água.

Derivado desse, outro equívoco repetido em rádios e no noticiário on-line chamou o projeto da Nova Marginal de "estúpido" e disse ser "desperdício de dinheiro público", porque iria agravar a impermeabilização da cidade. O raciocínio decidiu ignorar dados conhecidos: 1) a área asfaltada das novas pistas é desprezível - nem 0,06% da bacia do Tietê e 0,012% da área total já impermeabilizada no último meio século; 2) devido ao replantio de árvores na própria marginal e à implantação do parque Várzeas do Tietê, a área permeável aumentará cerca de 360 vezes. Serão eliminadas 559 árvores, 129 delas já mortas, e outras 4.900 serão plantadas nos canteiros da via expressa, 83 mil nas ruas adjacentes e 63 mil no parque linear.

OS ESPECIALISTAS

Equívocos vieram também de "especialistas", como o engenheiro da Unicamp, subprefeito da gestão Marta Suplicy (a dos desastrados túneis dos Jardins, que não investiu um centavo no Metrô), mais ligado à área de seguros do que à hidrologia.

Além de afirmar erradamente que serão retiradas da marginal 20 vezes mais árvores que de fato, propôs acabar com pista expressa, com um parque no seu lugar. Teríamos de ir a Guarulhos no lombo de um burrinho, como ironizou o governador Serra?
Outro "especialista", dessa vez arquiteto, sugeriu então uma ideia da época do prefeito Jânio Quadros - levar as marginais do Tietê e Pinheiros a 1,5 km de distância dos rios.

Só em desapropriações, seriam 180 bilhões de reais, fora demolições, parque e novo sistema viário local. Dezenas de milhares de famílias e empresas seriam despachadas para longe. O Estado quebraria, governador e prefeitos seriam depostos.

Nesta mesma página 3, um geólogo publicou uma "Carta aberta ao governador Serra" (11/9). Disse que os 43 piscinões da região metropolitana deveriam ser extintos - os mesmos piscinões que retiveram 8,5 bilhões de litros de água na terça-feira, ou um Tietê da Penha ao Cebolão, com sete metros de altura.

E após abominar o programa de combate a enchentes do governo, o que propôs?
Precisamente o mesmo programa, com as cinco frentes que vêm sendo executadas pelo governo do Estado com as prefeituras da região metropolitana: ampliação das calhas, permanente desassoreamento de rios e córregos, eliminação de pontos de estrangulamento dos cursos d'água, recuperação da capacidade de infiltração e retenção de águas pluviais e combate à erosão do solo.

Desde 1995, foram investidos em drenagem e contenção de cheias na região metropolitana 2,9 bilhões de reais. O plano de macrodrenagem é coerente e sensato, parte de um diagnóstico hidráulico-hidrológico que abrange toda a bacia hidrográfica e integra vários conceitos: contenção das águas das chuvas nas cabeceiras por meio de piscinões; aumento da capacidade de vazão
dos cursos d'água; ampliação de áreas verdes; criação de parques lineares e ciclovias; urbanização de favelas. Todos transformados em ação pelo Estado e prefeituras, principalmente a da capital.

Em 2004, São Paulo tinha 34 parques municipais, com 15 milhões de m2 de área verde. Em 2008, eram 48 parques e 23 milhões de m2. Hoje, são 54 parques e, até 2012, serão 100, ou 50 milhões de m².

Foram plantadas 550 mil árvores na zona urbana de 2005 a 2008, quintuplicando o quadriênio anterior. Todas as obras públicas e privadas licenciadas pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo exigem a calçada verde. A lei municipal das "piscininhas" já contempla essa iniciativa.

O parque Várzeas do Tietê, lançado em julho, terá um papel decisivo na drenagem e contenção das águas de chuvas atípicas. Com 75 km de extensão e 107 km2 de área, será o maior parque linear do mundo, unindo os oito municípios do Alto Tietê desde a nascente. Faz parte do licenciamento da Nova Marginal, como medida compensatória.

É claro que, com muito mais dinheiro, faríamos muito mais, e mais depressa.
Mas o fato é que nunca se fez tanto, na direção correta. Hoje, somos vítimas de um passado de políticas urbanas erradas. Mas o futuro colherá os bons resultados de um presente de políticas responsáveis."

Artigo de Dilma Pena, secretária de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, e Eduardo Jorge, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, publicado na* Folha de S. Paulo.*

ENCHENTES: RESPOSTA À RESPOSTA

"Não procurem enganar a sociedade e o próprio governador com algumas poucas ações pontuais citadas..."

No Tendências e Debates (FSP) de ontem, 15, dois secretários de governo esforçaram-se retoricamente para continuar fazendo ver à sociedade, e ao próprio governador, que tudo vai às mil maravilhas no combate às enchentes da metrópole paulista. E, já viciados na velha tecla, debitam mais essa terrível enchente às chuvas atípicas do último dia 8 de setembro.

Aliás, pelo número de chuvas que são dadas como atípicas pelas autoridades oficiais, chegaremos à uma conclusão pluviométrica interessante para a região, onde a atipicidade teria se tornado, por desígnios de Deus, o fato paradoxalmente comum e normal.

Ao criticarem artigo meu publicado nesse mesmo espaço no último dia 11, utilizam-se desinibidamente de uma acintosa mentira ao afirmar que propus a extinção dos 43 piscinões instalados na região metropolitana. Mentem também ao afirmar que as administrações públicas estadual e municipais estão já implementando as medidas que propus.

Pois bem, onde estão as ações de desimpermeabilização dos quase 3.000 Km² de área urbanizada da metrópole? Onde estão as ações de combate à erosão que anualmente lança mais de 3,5 milhões de metros cúbicos de sedimentos sobre todo o sistema de drenagem de São Paulo? Onde estão as ações sistemáticas de combate ao lançamento irregular do entulho de construção civil e do lixo?

Todo cidadão dessa metrópole sabe, por ver e conhecer, que essas ações simplesmente não estão acontecendo. Não procurem enganar a sociedade e o próprio governador com algumas poucas ações pontuais citadas, muitas ainda em planos e idéias, que não fazem efeito algum diante da dimensão de áreas e volumes que precisam ser atacados para um exitoso enfrentamento das enchentes. Afinal, humanamente, em que vocês estão se permitindo transformar?

Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos (mais de 30 anos dedicados a trabalhos e estudos na metrópole).

*ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS , geólogo, é consultor em geologia de engenharia, geotecnia e meio ambiente. Foi diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e diretor da Divisão de Geologia. É autor, entre outras obras, de "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática".
Álvaro é colaborador e articulista voluntário do Blog SOS Rios do Brasil e nosso consultor de assuntos da área de Geologia.
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