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3 de julho de 2010

FORMADO PELOS RIOS TIGRE E EUFRATES, O RIO SHATT AL ARAB TRANSFORMA-SE NUM DESASTRE AMBIENTAL DE DIFÍCIL SOLUÇÃO

Delta do Rio Shatt al Arab

Principal rio do Iraque torna-se desastre ambiental e econômico

O rio Shatt al Arab, que corre do local bíblico do Jardim do Éden ao Golfo Pérsico, transformou-se num desastre ambiental e econômico que o novo governo democrático do Iraque está sem forças para resolver.

Desaparecendo devido a décadas da má administração ditatorial, seguido pela negligência resultante da seca e da sede dos seus vizinhos, o rio iraquiano, formado pela convergência dos rios Tigre e Eufrates, não consegue mais evitar a entrada das águas do mar.

A água salgada do Golfo corre agora para a península de Faw. No ano passado, pela primeira vez na história, ela chegou a ultrapassar Basra, a maior cidade portuária do Iraque, e até mesmo Qurna, onde os dois rios se encontram. Isso tem causado danos à pesca em água doce, aos rebanhos, plantações e aos pomares de tâmaras, que, uma vez, renomaram a região, forçando, também, a migração de dezenas de milhares de fazendeiros.

Em uma terra de dificuldades, resignação e fé, esse desastre no Shatt al Arab parece, para alguns, obra do poder divino. “O que Deus faz não está sob o nosso controle”, disse Rashid Thajil Mutashar, subdiretor de recursos hídricos em Basra.

Mas o homem tem uma parcela de culpa no declínio do rio. A Turquia, a Síria e o Irã já se aproveitaram dos afluentes que deságuam no Tigre e Eufrates e, por fim, no Shatt al Arab, deixando autoridades iraquianas de mãos atadas, a não ser suplicar para que liberem mais água de suas redes modernas de represas.

O problema ambiental agravou-se principalmente no ano passado, quando o Irã cortou totalmente, por dez meses, o fluxo do rio Karun, que se encontra com o Shatt no sul de Basra. O fluxo foi retomado após as chuvas de inverno, mas em uma proporção bem menor do que os níveis anteriores.

Nos anos 80, o Irã e o Iraque brigaram pelo Shatt al Arab, que marca a fronteira do extremo sul entre ambos os países; ainda há inúmeros resquícios enferrujados dos navios que afundaram com a guerra. Embora a relação entre eles tenha melhorado após a queda de Saddam Hussein, o rio se tornou novamente uma fonte de tensão diplomática.

“A água pertence a Deus”, afirmou Mohammed Sadoon, fazendeiro e pescador do vilarejo de Abu Khasib, que teve que vender dois búfalos d’água no ano passado porque não tinha mais água potável do rio Shatt para dar a eles. “Eles não deveriam tomá-la de nós”.

O ministro iraquiano de recursos hídricos, Abdul Latif Jamal Rashid, disse que as questões ambientais e as disputas pelos direitos sobre a água são uma herança da época da ditadura.

Hussein desviou o fluxo sul do rio para uma vala durante a guerra com o Irã e inundou as várzeas do sul do Iraque nos anos 90. Sua beligerância com os vizinhos do Iraque também fez com que o país se isolasse – e depois enfraquecesse – quando esses países construíram suas represas, desviando a água que, por milênios, correu pela Mesopotâmia, a terra dos dois rios.

“O Iraque não conseguia nem recusar e nem cooperar com eles”, alegou numa entrevista em seu escritório em Bagdá. “Eles fizeram o que queriam.”

Em Basra e nos vilarejos que se escoram na margem iraquiana do rio Shatt, o impacto do desastre foi profundo. A água doce que uma vez correu nos canais de Basra – a Veneza do Oriente Médio, assim chamada há muito tempo – agora está fétida e repleta de lixo.

A água salgada poluiu tanto as reservas de água potável que o governo tem lutado para cavar canais no rio desde o norte – o primeiro-ministro Nouri al-Maliki inaugurou um antes da eleição nacional deste ano – e transportar água doce para uma grande parte da região. Aqueles que têm condições financeiras evitam beber água da torneira, que, de tão salgada, é capaz de deixar marcas num copo quando seca.

Mutashar disse que o nível de sal aceitável na água do Shatt era de 1.500 partes por milhão; no ano passado, esse nível alcançou 12 mil.

Faris Jassim al-Imara, químico do Centro de Ciência Marinha da Universidade de Basra, disse que registrou níveis de até 40 mil partes por milhão, bem como metais pesados e outros poluentes que vêm do norte e da refinaria de Abadan no Irã, onde tubulações enormes despejam constantemente a água utilizada.

“Isso está matando o rio e as pessoas”, lamentou. Aqui em Siba, atravessando a margem da cidade de Abadan, a água salgada está, aos poucos, destruindo a agricultura, a principal fonte de renda depois do petróleo.

Jalal Fakhir, que, juntamente com seus irmãos, cultiva um pequeno pedaço de terra, que é da família há décadas, perdeu suas vinhas, cinco pés de damasco, e toda sua colheita de quiabo, pepino e berinjela. As tamareiras que ele plantou há dois anos morreram; as mais velhas resistiram, mas seus galhos estão amarelando, enquanto a colheita anual de tâmaras está mais escassa.

Caminhando pelo seu escasso pomar, lamenta: “Isso era um paraíso”.

Os líderes do Iraque, lutando primeiro contra os conflitos pós-Saddam Hussein e agora contra o impasse político que retardou a formação de um novo governo, têm sido, até agora, incapazes de evitar a catástrofe que está ocorrendo aqui, e, menos ainda, revertê-la.

Gerenciar com eficiência a água do país todo continua sendo mais um objetivo do que uma realidade. O governo está planejando construir sua própria represa no Shatt – para combater a água do mar – mas, segundo Mutashar, o custo e a complexidade da idéia estão fora do alcance.

Apesar das várias negociações com os países vizinhos para aumentar o fluxo do rio, o Iraque conseguiu apenas algumas promessas de cooperação, especialmente devido à seca que atingiu a região nos últimos anos.

“Se tivéssemos um governo bom e forte, conseguiríamos nossos direitos”, disse Hassam Alwan Hamoud, patriarca, 71 anos, proveniente de uma família de beduínos que vivem cabanas ao redor do Shatt, próximo a Abu Khasib.

Em vez disso, eles se mudam com seus búfalos d’água conforme manda a água salgada. “Nosso governo não age. Eles são fracos”.

Rashid, o ministro de recursos hídricos, disse que o problema demorou décadas para desencadear, e levará décadas para ser resolvido.

Uma das coisas positivas da democracia do país, afirmou o ministro, é que os problemas se tornaram públicos, algo que não acontecia durante o governo de Saddam. “Isso veio à tona agora”, diz, “porque o Iraque é um país livre.” (Fonte: G1)/Ambiente Brasil



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