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8 de outubro de 2010

A IMPORTÂNCIA DAS APPs PARA A BIODIVERSIDADE

Programa Estadual de Recuperação de Matas Ciliares vai iniciar em Colorado D’Oeste, em Rondônia

  • A importância das áreas de preservação permanente para a biodiversidade‏


Laerte Scanavaca Júnior, engenheiro florestal, pesquisador da Embrapa 
Meio Ambiente

Com o crescimento da população humana, muitas florestas perdem espaço 
para a agricultura. Consequentemente, a biodiversidade vegetal e animal 
diminui acentuadamente. A taxa de extinção das espécies, que era de 0,2% 
há pouco mais de 100 anos, hoje é de 23%, ou seja, aumentou mais de cem 
vezes. Isso pode trazer conseqüências catastróficas para a humanidade.

A água é essencial à sobrevivência de todos os seres vivos e sua 
produção e manutenção está diretamente relacionada à floresta. 
Precisamos entender melhor o papel das florestas e preservá-las porque 
nossa sobrevivência e de todos os outros seres vivos depende disso.

Existem evidências que as bacias hidrográficas da Região Nordeste (Bacia 
Hidrográfica do Nordeste, do São Francisco e Leste), onde há menor 
cobertura vegetal (Caatinga e Cerrado), são mais sazonais (variam mais 
entre as épocas de secas e das chuvas) que bacias melhor protegidas por 
florestas como a bacia Amazônica, em função da maior evapotranspiração e 
da recarga na bacia hidrográfica.

As florestas protegem o solo da exposição direta ao sol, evitando desta 
forma seu ressecamento, além de abastecerem os mananciais de água de 
forma mais lenta e regular, estabilizando o microclima.

As matas ciliares são formações vegetais que acompanham os cursos 
d’água, lagos ou represas, cumprindo importantes funções na manutenção 
do regime hídrico da microbacia hidrográfica, no sustento da fauna e na 
estabilidade dos microambientes. Outra função importante é o 
sombreamento dos rios, que permite a entrada de matéria orgânica e 
sementes utilizadas na alimentação dos peixes. A presença de mata ciliar 
impede ou dificulta o carregamento de sedimentos, além de bloquear a 
poluição química causada por agrotóxicos, que aumentam a infecção por 
ectoparasitos nos peixes e provocam mutações principalmente em anfíbios.

Em usinas hidroelétricas, isso pode fazer uma enorme diferença, porque 
os sedimentos são abrasivos e podem encurtar substancialmente a vida 
útil das turbinas. Além disso, o custo específico com produtos químicos 
nas estações de tratamento de água eleva-se com a redução do percentual 
de cobertura florestal da bacia de abastecimento. Desta forma, o 
tratamento de água em uma bacia bem protegida pela mata cilar custa 
aproximadamente de R$ 2,00 a R$ 5,00/1000 por m3 de água tratada, 
enquanto que em uma bacia desprotegida o tratamento pode custar de R$ 
300,00 a R$ 500,00/1000 por m3. Nos EUA, o estado de Nova Iorque 
investiu em APP e para cada dólar investido, economizaram sete dólares 
no tratamento de água.

O entendimento da relação das florestas implantadas e a água é uma 
questão muito complexa e deve-se levar em consideração as múltiplas 
atividades antrópicas, tendo como unidade a microbacia. Deste modo, a 
floresta deve ser apreciada como uma atividade agrícola qualquer, que 
visa a produção de biomassa com intenção de obter algum lucro.

Além do consumo de água, devemos contabilizar a sua qualidade, o regime 
de vazão e a saúde do ecossistema aquático, incluindo uma visão mais 
abrangente sobre a relação do uso da terra, seja na produção florestal, 
agrícola, pecuária, abertura de estradas, urbanização, enfim, toda e 
qualquer alteração antrópica na paisagem e na conservação dos recursos 
hídricos.

Quem sabe assim, a sociedade acabará percebendo que uma possível 
diminuição na quantidade de água, degradação hidrológica qualquer 
caussando sua deterioração, não está somente nas florestas implantadas 
mas em uma infinidade de outras atividades antrópicas.

A legislação atual preconiza que a mata cilar seja feita com base e a 
partir da cota máxima do rio, enquanto que a nova proposta é pela cota 
mínima. Isso é muito preocupante, já que os córregos, que perfazem 
aproximadamente 90% dos rios brasileiros, desaparecerão em função da 
retirada da mata ciliar. O Brasil possui 17% da biodiversidade mundial 
de anfíbios, que vivem preferencialmente nestes córregos de dimensões 
menores. Isso causará a extinção de várias espécies de anfíbios e na 
maioria dos peixes (pexies pequeño e médios principalmente, que passam 
toda sua vida nesta zona do rio) além dos répteis - menos o jacaré, a 
jibóia e a sucuri, já que os demais também preferem riachos.

Os peixes pequenos, de até 15cm e médios - de 16 a 30cm são reofílicos, 
isto é, necessitam do ambiente lótico para completarem o seu ciclo de 
vida e ocorrem em abundância nos trechos de rios com fundo de rochas, 
tanto nas calhas como nas porções mais elevadas dos afluentes. 
Destacam-se os cascudos, timburés e cambevas. O peixes grandes - maiores 
que 30cm, embora ocupem as zonas lacustres (rios ou represas de maior 
profundidade e normalmente com leito arenoso), se reproduzem nos riachos 
menores. A prática da nova legislação afetará todas as espécies de 
peixes também.

O Brasil é o país de maior biodiversidade do Planeta. Foi o primeiro 
signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica e a agenda 21, que 
preconiza desenvolvimento sustentável, isto é, preservação da natureza 
ou exploração racional. É considerado megabiodiverso – país que reúne ao 
menos 70% das espécies vegetais e animais do Planeta. Possui a flora 
mais rica do mundo, com até 56.000 espécies de plantas superiores, já 
descritas, acima de 3.000 espécies de peixes de água doce, 517 espécies 
de anfíbios, 1.677 espécies de aves, 518 espécies de mamíferos e pode 
ter até 10 milhões de insetos.

Somente no campo medicinal, há na Floresta Amazônica 1.300 diferentes 
vegetais com reconhecido valor terapêutico. Nas florestas tropicais 
asiáticas, onde as civilizações atingiram maior desenvolvimento, este 
número é pelo menos dez vezes maior, embora a floresta deles seja menor 
que a nossa. Atualmente, 25% dos remédios que o homem utiliza nos países 
desenvolvidos possuem elementos retirados das florestas tropicais, 
porcentagem em progressivo crescimento.

Pesquisas recentes demonstram que problemas de saúde podem ser 
solucionados com auxílio de componentes retirados das matas tropicais. 
Encontram-se catalogados pelo menos 1.400 vegetais com substâncias 
anticancerígenas. Uma pequena planta das florestas de Madagascar, 
ameaçada de extinção, aumentou as chances de sobrevivência de crianças 
com leucemia de 10% (1960) para 90% (1980).

Estima-se que 75% das drogas derivadas de plantas em utilização no 
mundo, movimentando um mercado de aproximadamente US$ 43 bilhões, foram 
descobertas a partir da indicação de populações tradicionais.

Recentemente o Instituto Butantã descobriu um único composto retirado da 
jararaca (Bothrops sp.) que é usado na fabricação do Captopril - 
anti-hipertensivo que gera aproximadamente cinco bilhões de dólares 
anuais para a indústria farmacêutica.

Isso mostra que a floresta e sua biodiversidade tem enorme valor 
econômico, precisamos apenas saber explorá-la. Não podemos perder esse 
patrimônio por ignorância. Preservar, estudar, conhecer e explorar, 
social, econômica e ecologicamente é a melhor alternativa. Somos o país 
da megabiodiversidade, o mundo inteiro nos explora (biopirataria) e nós 
queremos destruir nosso patrimônio.
Fonte: 

BLOG
SOS RIOS DO BRASIL
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