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12 de abril de 2013

MEDITAÇÃO AO TOCANTINS

 Foto : Jordão Nunes

MEDITAÇÃO AO TOCANTINS

Poema de Abílio Pacheco
debruço-me em sua amurada
alto de álcool, ébrio de versos
memórias das tardes quentes
de olhos arenosos e rubros
garganta seca de gorjeios
caminhada pausada à borda
pendente na ponta dos dedos
a lata de líquido loiro
meu amor não me ensinou
a ser simples como um barquinho
deslizando nas águas dos rios
que bem banham Marabá
ergo-me cotovelos doridos
olhos secos e rubis de luzes
laranjadas acinzentantes
do ocaso espelhado nas águas
a voz não vale o verso olvido
pouso dedos sob o queixo
no pomo que deglute goles
meu amor quis me fazer crer
na lição leve dos batelões
que cortam a paisagem
de fim de tarde em Marabá
caminho em molejos gauches
como a vida fosse toda ela
essa paisagem, essa passagem
de vesperal fenecendo e sigo
pausados passos à borda
em clima de huzun, de lennui
curado/ampliado por lábios
beijando a borda gelada
de metal de pouco peso
meu amor não viu em mim
por paralelo a certeza
dos barcos e dos batelões
nessas águas a marulhar
baixo a bauxita lixiviada
o braço estende-se penso
a goela regada à cevada
a voz lubrificada e nova
para o verso que não vem
mas fica-me o aroma de malte
e de lúpulo em levedura
canto de ave aninhando
meu amor não me viu símile
de certeza singela e chã
em remos e quilhas seguras
nessas águas tocantinas
balanço os braços brandos
o corpo tonto e torto
neste caminhar de olhos,
ouvidos e boca de versos
palavras, sons e pausas
fito o ocaso desrubrando
a tarde deixada às costas
e a lâmina flúvia-chã aplainada
em calmaria de criação
embarcações dispersas e ausentes
viram versos livres, vorazes
e já não há voz a pedir simpleza
se sou todo fogo, água e ar
ouço o leito lento liso
ausente de banzos e banzeiros
refletindo pássaros silentes
em pontos e riscos pelo céu
de tetro lusco-fusco difuso
e de meus descompassos
de oblíquos passos líricos
cesuras, acentos e pausas
em leve entorpecimento
ao cais adernos de retorno
ressoam cadências desiguais
motivos ditados aos versos
a emergirem de vãos olvidos
esgoto todas as latinhas
de amarga água aloirada
preenchido a ponto de
pouca noção me restar
(feito fiapo de fita fina)
da tarde clara e vaga
e meu brado se faz aroma
de fruta madura vinhada
de doce azedura apurado
o verso abole o simplório,
o singelo agir, o sossego
inaprendido na lâmina dágua
a permanecer agora opaca
procuro porto e paragem
um locus de líteros litros
repouso a pernas e braços
costas, mãos e pensamento
de onde veja a noite vindo
desarrelio a olhos irritados
com seu manto estendido
de nítidos, claros lembrares
atracação à borda das águas
lentas ledas leves líricas
e sou todo linguagem

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