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17 de setembro de 2013

OS RIOS MORTOS NO NOROESTE DE MINAS GERAIS - RIBEIRÃO CAMPO GRANDE É UM DELES


Do Ribeirão Campo Grande, afluente do Urucuia, restaram o nome e o rastro árido. As pontes perderam a utilidade e hoje, no lugar de barcos, carros, motos e ônibus cortam o leito arenoso (Fotos: Beto Novaes/EM)
Dá para acreditar que esse era o leito de um ribeirão?
Do Ribeirão Campo Grande, afluente do Urucuia, restaram o nome e o rastro árido. As pontes perderam a utilidade e hoje, no lugar de barcos, carros, motos e ônibus cortam o leito arenoso (Fotos: Beto Novaes/EM)
Ainda considerado um dos celeiros de Minas, Noroeste enfrenta desaparecimento de cursos D’água e lagos, uma das faces mais cruéis da desertificação que avança sobre seus municípios

A Nova Fronteira da Sede: Desertificação mata rios no Noroeste de Minas

Publicado em setembro 17, 2013
Mateus Parreiras, em EM
Arinos, Dom Bosco e Urucuia – De curva em curva, nos remansos do Ribeirão Campo Grande dava para ver os cardumes de curimbas nadando contra a correnteza para desovar. “Até luziam, por causa do sol na escama prateada. Vinham do Rio Urucuia e depois desciam (de volta)”, conta o lavrador Afreu Vieira dos Santos, de 51 anos. “Essa é uma lembrança que a gente, que mora aqui, não esquece”, diz, com a voz triste. 
O tom melancólico se repete sempre que alguém que nasceu e cresceu ao longo dos 15 quilômetros de margens do Ribeirão Campo Grande, em Urucuia, no Noroeste de Minas, se lembra da época que suas águas caudalosas abasteciam fazendas, matavam a sede dos camponeses e divertiam a criançada. Nada mais disso é possível. 
O ribeirão morreu. Desde 2007 as águas não correm mais no Campo Grande, por causa da degradação de suas nascentes, problema que extermina aos poucos outros três córregos do município: o São Judas, o Seco e o Matão, que só correm no período chuvoso. A situação se repete em outras partes da região, onde a seca prolongada assola comunidades e impulsiona processos de desertificação, como mostra a série de reportagens que o Estado de Minas publica desde ontem.
“O Ribeirão Campo Grande é um afluente de primeira grandeza do Rio Urucuia, que por sua vez é um dos três principais tributários do Rio São Francisco. O que aconteceu com o ribeirão é uma verdadeira tragédia ambiental”, considera o coordenador do Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) do Rio Urucuia, Julio Ayala. Por motivos como esse, a perda de água na bacia do Rio São Francisco foi comprovada pelo National Center for Atmospheric Research (NCAR) dos Estados Unidos, em estudo de 2010, no qual dados coletados entre 1948 e 2004 nos 925 maiores rios do planeta mostram que o Velho Chico teve sua vazão reduzida em 35%.
No Campo Grande, no leito em que corria o ribeirão restaram pó, areia e cascalho. De margem a margem, o curso seco chega a ter 51 metros de largura, que hoje se assemelha a uma autoestrada cortando o cerrado. As pontes construídas para atravessar o Campo Grande se tornaram inúteis. Em certos pontos, as estradas vicinais que interligam povoados e fazendas simplesmente cruzam o ribeirão morto, que de tão largo torna pequenos os ônibus que o atravessam.
As nascentes do ribeirão, na Serra de Urucuia, secaram completamente depois que as terras foram desmatadas, sofreram com incêndios e se tornaram estéreis. A irregularidade e a redução do volume de chuvas agravaram o problema. “Pelo mapeamento do satélite, podemos comprovar que a área das nascentes do Ribeirão Campo Grande também sofre um processo de desertificação. Progressivamente as terras vão perdendo sua cobertura e não absorvem mais a água das chuvas. Por isso as nascentes secaram”, explica o coordenador do CBH do Rio Urucuia.

Memórias de uma vereda que morreu
O lavrador Afreu dos Santos lembra que a situação era diferente uma década antes, quando ele guiava um carro de boi perto de um desses cursos de água. “Todos os dias passava pelas nascentes, porque precisava cortar palha para fazer telhados e paredes para barracões na região. Era tão fundo que a gente tinha de subir na mesa (carroceria) do carro de boi”, lembra.
Mais do que nostalgia, a dona de casa Maria Maurícia Silvia de Souza, de 50, sente a falta da água, fundamental para cozinhar, lavar as roupas e para a higiene dela, do marido, dos dois filhos e do neto de 1 ano e 8 meses. “A gente usava a água do ribeirão para tudo. Como pode acabar com um rio grande daqueles? As pessoas não pensam em quem depende dos rios. A gente só não foi embora porque a Defesa Civil trouxe uma cacimba de encher com caminhão-pipa”, conta.
Em Arinos, município a 650 quilômetros de Belo Horizonte, também no Noroeste, a seca e a degradação ambiental fulminaram uma lagoa inteira, que até 2007 tinha dois quilômetros quadrados, pouco menos que a Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, que tem 2,4 km2. Hoje a chamada Lagoa Grande não passa de um contorno de areia deixada pela marca de suas bordas em meio ao cerrado. 
O leito arenoso ainda sustenta uma vegetação rala, chamada de carrasco, e que geralmente resiste em áreas em processo de degradação. Um pequeno lago vizinho segue o mesmo caminho e ano após ano perde parte do espelho d’água, revelando uma areia fina sobre a qual quase nada sobrevive.
De acordo com a Prefeitura de Arinos, as condições climáticas pioraram muito na região. Na última década, por exemplo, o índice de precipitação anual chegava a 1.200 milímetros. Nos últimos anos, chegou a 780mm, abaixo até do limite para o que caracteriza uma área como parte do semiárido, que é de 800mm. A situação é a mesma enfrentada no município de Dom Bosco, onde dezenas de córregos secaram. 
De acordo com a administração local, as precipitações anuais também se reduziram na última década, de  1.200 mm para 900mm. Em 2012, de acordo com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a região que compreende Formoso, Arinos, Dom Bosco, Bonfinópolis de Minas, Riachinho, Urucuia, Chapada Gaúcha e Buritis acumulou entre 600mm e 1.100mm de chuvas. Juntas, as cidades ocupam área mais extensa do que a castigada pela última grande seca que atingiu o estado, em 2007.
Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.
Matéria do EM, socializada pelo blogue Racismo Ambiental, de Tania Pacheco.
EcoDebate, 17/09/2013

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